Ecos do Encontro Ibérico GOT: O legado espiritual nos filhos de Teresa

Foi com alegria que nos dias 4 a 6 de Julho de 2025 nos voltamos a encontrar no Convento dos Padres Carmelitas Descalços em Avessadas. Com a Graça de Deus, membros de diversos Grupos de Oração Teresiana de Portugal e Espanha, voltaram-se a encontrar para viver a amizade, o encontro com Cristo, com a Virgem Maria, Santa Teresa de Jesus e vários filhos espirituais da nossa Santa Madre.

A introdução, na sexta-feira, foi caracterizada por um aprofundamento dos quatro pilares do Carisma Teresiano numa pequena dinâmica de grupo: oração, vida comunitária, estudo e trabalho. Partilhamos as ideias e experiências que evidenciavam estes pilares e percebemos a importância de uma vivência intensa e equilibrada de cada um destes quatro pilares para encetarmos um caminho de santidade, de alegria e união com o Amado.

Terminamos este primeiro dia com o relembrar do nosso chamamento à santidade – Cristo desafia-nos a viver numa lógica divina, de Amor incondicional, de desafio à frágil justiça humana. Somos chamados a desinstalarmo-nos. Santa Teresa de Jesus zelou para nos deixar uma palavra de abertura: “Não penseis, minhas irmãs, que, por não andar a contentar os do mundo, vos há-de faltar de comer; isto vos asseguro. Jamais, por artifícios humanos, pretendais sustentar-vos, porque morrereis de fome, e com razão. Ponde os olhos em vosso Esposo; Ele vos há-de sustentar.” (Caminho de Perfeição de Santa Teresa de Jesus 2, 1)

Sábado, durante a manhã, conhecemos melhor a Beata Ana de Jesus (1545 – 1621), conduzidos pelo Frei Carlos Eduardo. Segundo o coração de Santa Teresa, a Beata Ana de Jesus é Modelo de Prioresa. Ao longo da sua vida, ela apenas desejou ajudar as suas filhas a encontrarem-se com a Santa, sabendo que ela era a melhor mestra para as conduzir ao encontro com Cristo.

O Padre André Morais apresentou-nos de seguida a Venerável Madre Maria de São José Toledo, (1548 – 1603). O primeiro Carmelo Descalço fundado fora de Espanha foi em Lisboa por Maria de São José. Defendia a Santa Madre e a Reforma, bem como a Verdade. Sobre a oração, apresentou-nos um método:

·        Primeiro passo: preparação – limpar a consciência, libertando-a de todos os afetos terrenos. Iniciamos com um exame de consciência, seguido de um ato de contrição. Tudo vivido num clima de temor e de confiança.

·         Segundo passo: leitura. Esta ajuda-nos a não nos dispersamos – ajuda a estabilizar e a centrarmo-nos.

·      Terceiro passo: meditação. Esta serve para conhecer e amar melhor. A vontade cresce e move-se a amar o bem e rejeitar o mal.

·       Quarto passo: contemplação. A leitura e a meditação permitem esta etapa e surge a luz. O entendimento é uma luz que recebe na meditação sobre alguma verdade da nossa fé. A verdade depois de meditada, ilumina e ficamos deleitados.

·      Quinto passo: ação de graças. Agradecemos o que recebemos e pedimos para voltar a receber.

·       Sexto passo: pedido.

·    Sétimo passo: epílogo. A verdade e a vontade devem andar separadamente – a verdade é ela mesma e a vontade não pode prevalecer sobre a verdade. A verdade é o fruto que permanece na alma e pedimos a graça para a colocar em prática – é o momento do compromisso, do propósito, de realizarmos pequenos propósitos possíveis.

Fomos desafiados com três perguntas:

·         Será que eu luto pela verdade e aceito sofrer pela verdade?

·         Será que Deus me envolve?

·         A partir deste método, o que posso melhorar na minha oração?

Durante a tarde, com o Padre Joaquim Teixeira, conhecemos melhor o Beato Eugénio Maria do Menino Jesus (1894-1967), sacerdote carmelita descalço francês, fundador do Instituto Notre-Dame de Vie. O Beato Eugénio Maria fez um esforço de tradução para a vida secular a profunda e bela espiritualidade de Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz e Santa Teresinha do Menino Jesus. O seu livro “Quiero ver a Dios” é de uma riqueza extraordinária. Fomos apresentados com a importância das amizades espirituais – a amizade que estabelecemos com alguém com quem podemos falar de questões espirituais, com quem partilhamos a fé, com quem partilhamos Jesus Amigo e podemos fazer caminho de crescimento espiritual, um crescimento para Deus, para a obediência a Deus e para se exercitar nas coisas espirituais. Esta amizade tem Deus no centro – é uma amizade a três. Os Grupos de Oração Teresiana são espaço de crescimento destas amizades espirituais. Podem torna-se pequenas casas de Betânia. Ficamos com algumas questões para meditar:

·         Na minha história pessoal, recordo as pessoas a quem chamei de amigos.

·         Como começaram, como perduraram no tempo e como algumas terminaram?

·         Quais as amizades de infância que perduram nos tempos de hoje?

·         Quais as amizades atuais que podem levar o adjetivo de espiritual? Se não tiver, que posso fazer para me abrir a este dom de uma amizade espiritual?

Durante parte da tarde tivemos oportunidade de estar a sós com Jesus e depois partilhar em pequenos grupos algumas aprendizagens que fizemos.

A noite de Sábado foi vivida na companhia da Virgem Maria e de Santa Teresa de Jesus (e, no final, com toda a profundidade de discrição de São José), que nos deu o exemplo de como acolheu Maria como sua Mãe (Livro da Vida 1, 7). Começamos junto à Cruz, no momento em que Jesus nos dá a Sua Mãe (João 19, 25-27). Fomos interpelados a acolhê-la no nosso coração como Mãe, como Aquela que nos molda a alma, a vida, o coração, a oração, de tal modo, se assim o desejarmos e deixarmos, a tornarmo-nos sacrários vivos fiéis e transparentes à Luz de Cristo. Durante uma caminhada de luz, fomos interpelados a deixar que Maria nos ensinasse as suas virtudes: Vida de Oração; Fé Viva; Obediência; Humildade; Pureza; Paciência; Mortificação; Amor Maternal; Doçura; Sabedoria; Ternura; Silêncio. Terminamos este momento com a formulação de um compromisso pessoal colocado nos Corações de Jesus e Maria. 

Domingo, dia da nossa partida para a continuação do caminho de santidade na vida concreta do dia-a-dia, a Irmã Susana Maria, do Carmelo de Santa Teresa, Coimbra, partilhou connosco a Luz da Venerável Irmã Lúcia de Jesus. A Irmã Susana partilhou a experiência da Comunidade com a convivência com a Irmã Lúcia. Partilhou ainda vários pontos importantes que podemos encontrar no livro recentemente publicado pelas Edições Carmelo “Viver na Luz de Deus”.

A Irmã Susana Maria deixou-nos algumas questões que nos desafiam a crescer:

·         Deus concede-me Graças e uma missão. Até que ponto me mantenho firme no meu "sim"? Renovo o meu "sim"?

·         Na missão que Deus me confia, há uma parte que me compete a mim. Torno-me instrumento de Deus e toda a obra é de Deus. Há, pois, outra parte que não me compete. A minha vida de oração leva-me a esta consciência?

·         No meu dia-a-dia, quem não sabe que pertenço a Cristo, consegue percebê-lo?

·         Sei pedir e dar perdão?

·         Só tenho o que de Deus recebo. Só sou o que Deus me faz ser. Como está a minha humildade?

·         Como sou Luz e sal hoje?

·         Maria encaminha para o Filho e o Filho para a Trindade. Deixo-me revestir pelas virtudes de Maria?

·         Dou graças pela Eucaristia? Acredito no seu poder transformador? Acredito que sou sacrário vivo?

Demos graças a Deus por este Encontro Ibérico dos GOT. Estas breves palavras são apenas um pequeno vislumbre de tudo o que foi vivido, partilhado, orado; são apenas uma pequena centelha de tudo o que o Espírito operou em cada um dos participantes.

Fica o desafio de continuarmos este maravilhoso caminho de santidade na companhia uns dos outros, numa amizade espiritual, e na companhia de todos os santos do Carmelo (e não só) e ternamente habitados pela Trindade Santa e pela Virgem Maria.

Obrigado a todos os que participaram e contribuíram para que este abençoado encontro acontecesse!